Queridas pessoas que dançam,
Escrevo esta carta para compartilhar propostas que têm me movido.
Apesar do confinamento e da provável falta de recursos (não só materiais), posso dançar com o que tenho: o lugar, o corpo, os objetos, o som, as indagações, angústias, dúvidas e euforias que tenho, agora.
Eu posso dançar!
Para mim, a falta não é algo necessariamente ruim para a dança e pode até me impulsionar a mover. Tem faltas que deixam espaço para que coisas interessantes aconteçam.
O que é necessário dançar agora?
O que me motiva a dançar hoje?
A partir da dança, posso:
Mover algo que é muito essencial para mim.
Revelar algo da minha intimidade.
Ser humana tal como eu sou.
Pela dança, também posso mover a energia, transformar meu micro espaço.
Estar atenta ao que o espaço está pedindo: dinamizar, ventar, espiralar, densificar ou diluir.
Fazer um ritual para o espaço.
Conectar-se com a Terra – planeta – e também com a terra – chão. Reverenciar a Terra e a terra.
Dançar com alguém que está na mesma casa que eu, mesmo que esta pessoa não seja uma dançarina.
Sugiro caminhar na seguinte direção:
Buscar fazer uma dança que possa ser oferecida a algo ou alguém.
Ir além da sua vaidade e exibicionismo (se estiverem aí, tudo bem - mas fiquem atentos para não deixar que eles roubem de vocês os seus movimentos.)
Buscar fazer uma dança que inspire vida. Ainda que haja dores e faltas, tentar movê-las no sentido de “buscar um caminho” em direção à vontade de viver.
A dança é grande pela sua honestidade e sinceridade em sua intenção. Nesse sentido, há danças muito grandes que podem ser feitas com movimentos muito pequenos.
Tomar cuidado com desculpas e auto sabotagens que dizem para não dançar. Há motivos suficientemente grandes que tornamos pequenos pela nossa perniciosidade com a gente mesmo.
Ter muito cuidado e carinho com o próprio corpo para não machucar.
Estar atentos aos próprios limites (e também aos limites da casa, para não quebrar nada de importante!).
Tudo isso é só para ajudar a mover, mas uma dança grande pode ser algo muito simples!
Neste momento, não faltam motivos para dançar.
Acolha e permita os seus movimentos.
Com carinho,
E.M.C
Nota: A carta acima foi escrita por uma educadora de dança em formação contínua na metodologia Etievan, endereçada a seus próprios alunos adolescentes no início do confinamento - quando a necessidade de praticar artes se tornou ainda mais essencial nas nossas vidas.
No Centros Etievan, acreditamos que a arte pode ser um caminho e uma das ferramentas que permitem experienciar o olhar para nós mesmos, a partir de um lugar essencial para o ser - e de uma educação dirigida não apenas à mente, mas também ao sentimento e ao corpo.
Por: E.M.C., educadora de dança em formação contínua na metodologia Etievan
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